sexta-feira, 7 de junho de 2013

preciso


por Luiz da Nóbrega  em Terça, 4 de Junho de 2013 
preciso de te dizer o que nunca disse a ninguém 
nem poderia porque ainda não te tinha encontrado 
preciso de te sorrir ou de aprender se não souber 
sei que me podes ensinar 
preciso de partir 
mas nao é partir que importa 
é te encontrar 
muitos dias sobrevivi sem te ter
muitas raivas engolidas me feriram a garganta 
muitas feridas que só tu sabes curar 
muito tempo passei à tua espera 
depois de te ter sonhado exactamente como és 
tantos anos passei sem ti , sem saber onde estavas 
sem sequer acreditar que existias 
e tanta sorte tenho eu com os meus sonhos 
preciso de te dizer que sempre foste o sonho principal 
aquela luz incerta mas constante na bruma dos dias
 uma força na qual quase deixei de acreditar 
preciso de te dizer que nao sou suficientemente poeta para te explicar porque te amo, 
e o quanto só te posso mostrar como. 
Como sei que nada vale o que vivi como te tocar serà dizer: enfim 
como preciso de ti 
e como me verás ao teu lado sempre 
que precisares de mim

luzes


por Luiz da Nóbrega em Terça, 4 de Junho de 2013 
não és uma musa ,nem ninfa voadora ,és uma estrela supersônica 
a minha estrela sigo a luz da tua órbita se bem que as estrelas , 
dizem, não orbitam mas não ligo à cosmologia cientifica prefiro ficar na ignorância 
antiga daqueles que passaram a vida a seguir estrelas que, 
mesmo se paradas no espaço desta terra se veem a voar
e depois dos azimutes das latitudes , longitudes outras medidas espaciais 
só me importa saber gravitar em tua volta e saber voltar para dentro de ti conhecermos as tangentes dos corpos e a voz das mentes juntas 
que se ouvem e se falam e se escutam e se dizem e se dão e se recebem e transitam entre nós alegrias impulsos de abraços, 
e outras letargias onde não haverá cansaços basta eu seguir essas luzes todas que todas chegam de ti de estrela voadora de musa supersônica de ninfa do mar em qualquer lado te sigo te espero , ou me encontro contigo dentro de um sonho do qual saio a sonhar mando parar o transito para te apanhar e com a ponta dos dedos te mostrar as cores de todas as luzes que nos podem iluminar (é melhor estacionar) a unica cosmologia que existe é eu ser um barco , ou uma onda na praia onde tu és estrela do mar ninfa supersônica e a musa sempre voadora que com suas asas me traz ar não pares nunca sim, tens de ir, estás perdendo a hora de chegar não, tens de vir estás ganhando a hora de partir. Eu vou indo vendo as tuas luzes, vou seguindo...

falta de luz

falta de luz

por Luiz da Nóbrega (Notas) em Segunda, 3 de Junho de 2013 às 13:51
Escuta...
estás a ver?
Não. Não ouves nada, não vês ninguém.

Apenas segues uma estrada
qualquer , na noite, e mais além
ainda escurece um rouxinol a cantar
escuta, quando desaparece
chega o barulho do sol a raiar,

o meu amor vale a pena,
mas como não me ama,
não vale a pena amar
nem a deste amor
nem outra mais pequena
nenhuma quero escutar.

Mas vês, ao menos, o sol raiar?
Escuta
só há nuvens que não passam,
por cima da estrada deserta
onde não passa ninguém,

e o sol
pro raio que o parta também.

ppp


por Luiz da Nóbrega  em Segunda, 3 de Junho de 2013 
ninguém tem culpa  dos desvarios, nem de tantos sombrios pensamentos amargos de perda, nem que as promessas de algum consolo não perdurem, sofrimento e esperança são dois sentimentos que viajam no mesmo barco, um vestido de lã, outro de espinhos, e o pior de tudo é que também são irmãos gêmeos da imprudência e da impaciência, meus dois maiores defeitos. Tens razão em tudo, nem tudo em que toco morre, se por vezes, me julguei morto ainda sei fazer viver os cactosé mais fácil com os cactos, é fácil porque são sobreviventes natos  mas, de facto,
não és um cacto.

lar


por Luiz da Nóbrega  em Terça, 28 de maio de 2013 

Acertas, com precisão, em tudo o que preciso.
por isso te chamei meu lar
e eu...
querendo dar-te castelos no ar.
Tu és uma casa solida e arejada
os meus castelos não são nada,
de todos os lugares
és o único onde quero ficar,
onde quero ir,
e nem vale a pena tentar regressar a outro lugar qualquer,
e se fico parado ouço a musica da tua voz
a arrepiar-me as horas,
em qualquer silencio que me perca te encontro
e volto sempre aos mesmos castelos que te quero dar
mesmo se sei que os faço no ar
és a dona  destas torres, ameias e pontes levadiças,
és a casa que me chama como a voz das sereias,
um feitiço doce que não adormece,
que me acorda cedo e me pousa na luz
para começar os dias.

Se um lar me aparece,
não é, de certeza um castelo no ar,
é o único calor dos teus braços
onde quero morar.

é o instante do teu sorriso
que me acerta sempre
precisamente
onde preciso.

invasão



por Luiz da Nóbrega  em Terça, 28 de maio de 2013 
bem sei porque invades os meus sonhos, e gosto, mesmo sabendo que ninguém sabe o que são os sonhos, e eu também não. Mas sendo assim é que sempre que me apareces me lembro que me acontece e já me tinha acontecido não parar de pensar em ti. 

sem


por Luiz da Nóbrega  em Terça, 28 de maio de 2013 
Sem ti sinto frio, fome, sede e medo, mas nada disso importa pq sem ti não sinto fome, nem sede, nem frio nem sinto nada, apenas medo, e a coragem de abrir os olhos para o medo de te perder e consigo enfim chorar, se sinto sem ti é por ti, mesmo para ter lágrimas sem ti, nem sequer choro esqueço o riso fazes-me bem, fazes-me mal és o meu bem essencial

barulho de primavera


por Luiz da Nóbrega em Sábado, 25 de maio de 2013 
hoje só poderia estar sol
devo-te ter sonhado
o ano passado porque
já trazia na mente as volúpias do teu corpo;

a música do teu gemido,
e esse gesto com que
no teu orgasmo
encolhes o corpo
como se quisesses guardar bem lá dentro de ti
essa alegria,
levar contigo esse tempo
do nosso prazer,
mas o que mais me faltava era o teu riso.

Sim. Pois. Pois sim


por Luiz da Nóbrega  em Quarta, 22 de maio de 2013 
Rostos infindos dançando
ainda nas brumas matutinas.
 Frases e mais frases
embatem nos ouvidos irritados
em marteladas de gritos foragidos
de bocas ilógicas
tremulentas de peitos inexplicados
de assombração.
Pois.

Poderias chegar
estendendo os braços beijados
os teus braços cobertos de tanto sol
que fizemos,
e lavantarías o véu silencioso
das manhas dos rostos.
 Enovelaríamos dedos ansiosos
pela vereda fresca,
calma moradia que
habitaríamos simplesmente.
Sim.

Não é este o poema certo...
Pois não.

deslumbramento


por Luiz da Nóbrega  em Quarta, 22 de maio de 2013 
Atônito, cego, fechado
tacteio o mundo em que me vejo rodeado
de todos os rostos presentes que ele tem
mas também longínquos ou...
como queiram.

 Chego ainda,
apesar de ainda me saberem demonstrar
palavras ausentes e imprecisamente certas
no meio do recado.

 Atônito ou deslumbrado;
e eu que queria partir...
Para quê ? Se tudo é igual por todo o lado.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

mas


por Luiz da Nóbrega  em Segunda, 20 de maio de 2013 
 Mas já te tinham dito tudo
os todos que já tinhas visto,
que já tinham feito tudo de imprevisto,
diziam de improviso...
como a música de um poema pairando por cima
de tudo, de facto,
no mais indizível gesto
nas palavras ainda não bastante gastas...
embora já te tenham dito tudo.
 Mas só visto.

 Desmarcas-te.
 E porque te desmarcas tantas vezes,se
nunca foste o anti-árbitro das palavras?
Nem das coisas que pretendes.
Nem das que não queres.
 Querias, talvez, ir longe demais e expulsares a maior parte dos jogadores.
 E expulsares-te.
 E tornares a sair de dentro de tudo,
talvez para fora de ti mesmo
para, enfim, recomeçares
mais num continuo contrário das coisas.
 Que interessa contrariar as coisas?
 O contrário afoga-te em abstrações ofuscantes mas
pensas ter ido A algum lado
mas nunca regressas porque
já não podes parar.

 Na viagem para o recomeço acabara tudo
antes de chegares,  e chegavas ao fim.
 Devias ter começado por ti antes do tempo da desmarcação
mas enrolas no corpo filas de prisões intermináveis.

 E entretanto vais-te queixando
porque te levantas cedo demais,
ou porque a sopa está salgada,
ou porque não é assim ou
apenas porque não estás de acordo e enfim..
és tu que fazes a sopa!
  Mas não te apetece.
 
  E gostarias de ser exímio na caligrafia
por uma questão de afirmação pessoal perante o tão extenso
e tão conhecido pessoal que te acompanha
pelas vias da razão mas
só se houver disposição.

insanidade


por Luiz da Nóbrega  em Segunda, 20 de maio de 2013
Não sei de quase nada,
nem de quase ninguém,
é quase o fim e também
já pouco quero saber de mim.

Esta é a antiga prisão
da imaginável verdade
de ir seguindo uma razão
toda uma vida
e toda ela ser insanidade.

Depara-se-me um rio de gente
barrando o caminho,
se caio lá dentro
leva-me a corrente
mas vou sozinho.

Assim fico encalhado,
como barco desistente,
não por medo da água,
mas por uma mágoa dormente
que não me deixa dormir,
nem me quer acordado...

Vou, sonâmbulo, mirando montanhas,
tropeço na encosta de um sonho qualquer,
fujo das miragens de uma mulher,
ou de outras entranhas que toda a gente quer...
de ter família e um nome,
da não ter sede nem fome
de quase ninguém...

mas eu tenho e vou também
por esta vida de quase nada
apenas querendo dormir,
esperando ver além surgir
uma diferente madrugada.

Mas é impossível ser feliz sozinho,
já não sei se é solidão ou egoísmo,
ou se o esboço do caminho
é alucinação do alcoolismo.

Nestas torres de Babel
onde já diz o povo: "casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão"...
encontrei um papel novo para dizer que
onde não há coração todos falam 
mas ninguém dá a mão

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A forẽt des Soignes não é o Marão


por Luiz da Nóbrega  em Sexta, 17 de maio de 2013 
 Vou, numa espécie de musica, perder-me densamente na manhã imensa,
vou avançando, pasmado, até esse espanto de me ver parte
da floresta densa.

 Por vezes vou lá, já noite cerrada, pela calada da noite
na noite calada...mas ela não se cala.
Uma pinha que cai, um esquilo que salta,
qualquer ruido embala, qualquer  luzinha faz falta.
 E o barulho, que depois reconheço, das folhas que caiem
bruissando na brisa, a tropelia dos cervos, 
e das nocturnas aves os alaridos, nos quais dormito encostado,
se sinto frio caminho um bocado...
Não é o Marão. Não...
é uma floresta que conheço
mas não sei se me conhece...
é um espaço onde esqueço quase tudo o que no mundo acontece,
e aqui também amanhece....

Gosto das frescura destes ventos,
do cheiro forte do húmus,
que apazigua iras e tormentos,
entro neste entrelaçado de sombras
onde o sol só se atreve
em claridade leve e insegura
para não perturbar esta paz escura.

Por vezes penso que não sei o que faço,
encontro uma árvore e dou-lhe um abraço
mas logo me esqueço, nem preciso de olhar
a calma secular dos álamos, dos freixos, a chegar...

Agora há narcisos..com esses roxos tão precisos, de tanto se mirarem..
espalham-se pelas colinas em mantas coloridas
longe, e mais longe ainda e
as cores são tantas que não se podem pintar,
invadem clareiras doces onde apetece correr,
então corro, corro até rebentar,
corro até sem ter meta,
e agora? 
Onde é que deixei a bicicleta?

Javalis altivos trotam sem medo. Ah! Se eu fosse caçador...
e ninguém visse, apanhava-os sem dor
e levava um bocado para por
dentro de um pote em Tourinhas,
deixa-os lá...estão verdes.
Passa uma águia..não. Aqui não é o Marão. São garças
elegantes, voam esparsas pela quietude do lago,
e , comme d'habitude, mais vale estar calado.
Qualquer palavra seria um barulho gago.
Até as outras aves param para as verem passar,
Os patos, cisnes, gaivotas...mas os fáceis de pescar,
só de passagem...querem é os canais da cidade,
metem-se em suas betônicas grutas,
à procura dos restos desta miragem,
são umas putas! Deixa-te disso....

Deixa é bater o coração, ao sabor das cores, das sombras, dos sabores
mesmo que não bata no Marão.
Aqui há castanhas, avelãs, cogumelos, coisas sãs,
um tempo tranquilo sem sorrisos amarelos,
aqui os sorrisos não tem cor...são sorrisos, mais nada.
Nem sei se têm amor, 
têm uma gentileza inesperada,
e uma dureza fria, quase petrificada,
uma beleza empedernida num sóbrio equilíibrio que quer
conservar a vida. Mas não é o Marão. Não.
No Marão, há chuva fria, bruma intensa, silencio cego
mas há o apego da presença de um amigo,
um abrigo. Aqui só corro depressa...

E corro até sem razão e sem ter meta...
Por vezes sinto uma gota no rosto,
não sei se é orvalho ou qualquer outro mosto,
procuro-a com a mão e limpo-a de forma discreta,
Não é o Marão, não...
onde é que deixei a bicicleta?

J'avance


por Luiz da Nóbrega em Quinta, 9 de maio de 2013 
sans joie ni désir, sans une molécule d'espérance,
avec la seule ironie que me fait rire,
je tombe dans un coma d'élite, ou éthilique
je sombre vite en voyant la sombre clique qui m'entoure
je vais à l'ombre, c"est plus sure,
même si on se donne des claques
pour ne pas devenir patraque
on ne sais plus très bien avec qui on se maque
avec qui on mange ou on dors
si c'est chérie ou superchérie
 qui est qui et puis..alors
on se dit qu'on s"en fout
qu'il faut de tout pour faire un monde
et una vie et que la terre est ronde
des fois froide et d'autres chaude
on fait le tour
on baguenaude.

Je m'étiole  en vidant la fiole dans mon verre
dans mes pas et dans mes mots
je m'éfiloche pensant
que j'en fais un peu trop
pour une fausse émeraude
je paitre
je baguenaude....... 

Je baguenaude


por Luiz da Nóbrega em Quinta, 9 de maio de 2013                                      
Je divague dans les prés comme le bétail dans les ouvertes alpages,
je essaie  de me trouver en une seule phrase;
mais
tout de suite
j'ai perdu la page.

Je grignote, un peu par ci, un peu par là,
sans métode ni science
et puis
mon impatience
me dis que il faut aller en contrebas

je vagabonde en dispersion
cherchant des raisons
qui n"existent pas


c"est comme ça, parfois je me sent vivant
tout près de l'aube,
et après je baguenaude

je fais des efforts et je me force
à reconnaittre mes torts, à écorché mon écorce,
quoi que je dise ou je fasse, avec n"importe qui
très vite je pars à la derive, je me lasse
je vais dire ailleurs, pour qu'ils sachent que
ce n'est pas pareille ici

mais j'avance
sans une molècule d'espérance, j'avance

falta de sabedoria


por Luiz da Nóbrega  em Quarta, 8 de maio de 2013 
Soubesse eu amar-te desgarradamente
e solto das manhãs acabruhadas,
desprender-me do tempo e alongar-te em mim
na pele e na boca de ardor insatisfeito,
e num só gesto por-te na cama amena dos braços,

reclamar o teu corpo e tudo ainda outra vez,
outra vez ainda sorrirmos a esperança
sempre inacabada.
  

Queria escrever-te um poema simples,
só para te dizer que tudo isto não vale nada,
que há muitas palavras por fazer
e que o beijo esfria enquanto te exige aqui,
e que venhas com o sopro doce dos teus planaltos
demarcar o desejo
essa força enlouquecida que renasce
para te acompanhar
enquanto iludes o medo e a vida,
meu amor, se eu soubesse...

aparições II

por Luiz da Nóbrega  em Terça, 7 de maio de 2013 
  Para dentro do bolso, onde dorme a carteira que se apalpa a toda a hora. Da qual se conhecem todos os poros do plástico preto reciclado.
  Pairam olhares deslavados. Ausentes. Nem sequer incertos, apenas fixos nos muros interiores de dentro, lá dentro....Lá dentro o que? Lá dentro nada. Está tudo parado.
  E eu que sai à rua para espairecer! Aparecem-me estes...Ide pairar pro caralho.
  Nem uma passadeira se pode atravessar sem pairar uma aceleradela brusca. E o perigo das horas de ponta?
  Por vezes pairam algumas gaivotas. Mas são umas putas...abandonam o mar para virem mendigar uma migalhas de pao a Bruxelas! Depois ficam ali a boiar nos canais de barriga cheia, a esquecerem-se dos instintos.
  Depois aparecem no centro da cidade. Planam assim por cima dos transeuntes, ameaçando a cagadela. E os passantes, esses, também se estão a cagar. Interessa-lhes là bem saber daquilo! Ou se é a Natureza que está a ser insultada. Que Natureza?
  A natureza é que é a culpada disto tudo...que desapareça. Tem é de sumir-se. Vamos amarfanhar isso tudo até não ficar mais que uma simples ideia a pairar por cima de alguns ecologistas doidos mal desprogramados.
  ( Tudo isto se depaira quase real. Como se a realidade não passasse de uma pairagem no deserto de cada um.
  Nem se aceita o real. Nem se quer o ilusório. Muito poucos ousam ainda inventar alguma coisa. Alguns. Aqueles que vêem as coisas.
  Aparecem-me antigas amizades, fugidias. Descubro, espantado,  que transportam doenças mentais não identificadas. A.M.N.I. Avarias . A.M.N.I.A. Anônimos. Avarias mentais não identificadas -anônimos?
  Estaremos mesmo a ficar todos anônimos? Out ou antônimos de nos mesmos?  Antônimos daquilo que fomos, e ainda, no fundo, somos, mas que julgamos mudar...
  é claro que tudo mudou mas não dei conta. Estava ocupado a aprender a respirar com musica. Longe do barulho dos martelos, das perfuradoras e outras máquinas atroadoras que me fizeram tremer durante muitos anos.
  E depois: Manifestação

( continuação)

aparições

por Luiz da Nóbrega  em Sábado, 4 de maio de 2013 
  Eis a rua. Apareço.
  Aparecem-me formas, rostos,
e mesmo esboços de movimentos. Mas é tudo baço...
 Desembaça!
 ( Há quem diga desembacia, mas isso, para mim, significa sair do bacio.) Não importa.
 Eis a rua, com seus passeios e as portas que os miram desapegadas
mas vigiando as entradas.
 Para as saídas é mais simples, fecham-se mais depressa.
 E voilà. Só existe um ritmo singular em cada esquina depois de a virar. Em cada praça pairam línguas diferentes.
Pairam coisas. Batem instintos e sentimentos no ar que respiro.
 Paira uma avidez egoísta que faz tornar a fome abjecta. Por  cima disto tudo, e até dos riscos amarelos, e até ofuscando as luzes programadas, ouve-se um ricanar amargo.
 Olha-se para cima e vê-se um esgar no sol indefinido que parece querer dizer presença.
 E como é para todos, toda a gente apairece. Desolação.
 Que é isto de querer marcar presença na desolação?
 Depois, por todos os lados pairam gritos irados. Violências viradas para dentro das casas. Testemunhas caidas nos passeios por entre os transeuntes intestemunháveis. Vão avançando em pose ambígua, mostrando fachadas tao pesadas como as da tranquilidade das casas.
 E os transeuntes , em transe, untam-se de simulacro de tranquilidade. ( é um antigo produto fornecido por igrejas, governos, partidos e outras partidas e repartidas famílias.)
  E avançam. Como se aqueles gritos todos pudessem ser deixados ali, entre os klinexes e as camisas de vénus. Conspurcados pelas latas da Caraplis nocturna das más horas do vômito. E tudo isso pairando no frio petrifricante de uma nuvem feita de gelo escuro, que não tem nada a ver com a atmosfera.
 Pairam também olhares virados ao contrário. Porque será que há tanta gente a olhar para dentro? E para dentro de quê?


 ( continua...)

Mayrinck na estrada


por Luiz da Nóbrega  em Sábado, 4 de maio de 2013 
Mayrinck entra no burburinho do ônibus, um rumor de multidão distante...
volta para casa sentada frente ao reflexo dos seus dias,
vai olhando pela janela
como quem procura nos passantes
rostos que se assemelhem à vida.

Como se estivesse sentada num canto da casa
contando as etapas numa fila de fotos pousadas
em cima do móvel brilhante,
e assim vai, de paragem em paragem, como dentro do ônibus...
até à mais recente imagem...

em casa é fácil passar para a primeira
saltar ao sabor do tempo
de um rosto ao outro, todos dela,
e não parar em algum no qual não quer acreditar

mas vai lá dentro, de janela fechada
que impede o vento
que leva
Mayrinck
na estrada.

fugiu um brinquedo do teu parque de distrações


por Luiz da Nóbrega  em Sábado, 4 de maio de 2013 
por onde te passeias
de inconsciência leve e meio-leviana,
inventando absurdas razões para brincares à vida,
porém a meio do teu capricho já nao sabes se queres um brinquedo ou se queres um bicho
perfeitamente amestrado para fazer números de circo e outros espectáculos que olharas
meia-indiferente, meia-arrogante, meia-sorridente, meia-carente mas sempre distante,

antes de ficar mudo
fujo e digo,
no meio disto tudo
prefiro ser infeliz sozinho
que ser meio-feliz contigo

" Nem o sol nem a morte se podem olhar fixamente"


por Luiz da Nóbrega  em Terça, 23 de abril de 2013 
mas queres saber
quanto podes suportar
de dor e de medo
antes de
desviares os olhos.

cogitas em lamurias constantes
de quem se esqueceu do futuro,
para que o agora ainda seja o antes,
insistes em gritar para dentro do escuro.

a alma, de certeza,
não esperava o que acontece,
amarelece no vai-vem das madrugadas
quando
não se acorda
da combustão dos sonhos.

ficámos de feridas abertas esperando o álibi do tempo


por Luiz da Nóbrega  em Sábado, 27 de abril de 2013 
Ficamos de feridas abertas
ainda mal cobertas pelo pó do álibi do tempo

por isso ainda me torturam tanto as imagens de ti que trago comigo

não só as físicas

as mais nítidas são as dos sonhos que sonhamos juntos

a imagem do futuro

do nosso futuro de mão dada

(adoro as tuas mãos)

de um amor que duraria o resto das nossas vidas

das viagens que faríamos parando aqui e acolá para trocarmos beijos,

para fazer também meu

esse tao só teu beijo

e nos encontrarmos num só

a qualquer hora

estarmos sempre um no outro e um com o outro

e ficarmos fortes assim com a fonte quente que brota do amor

para seguir em frente e seguir a vida,

mostrando a nossa luz e nossa ferida

sendo um para o outro sol cristalino

e entrar nas sombras que se cruzaram e ainda se cruzam

do passado, do presente e do quase futuro que nunca é igual ao que poderia ser diferente

saber que no meio disso tudo estávamos nos

pele com pele , de olhar seguro

a ouvirmos a mesma voz

do mar, do pássaro , do cão, de um amigo, de um filho, ou de outra coisa qualquer

é esta a imagem mais nítida que tenho de ti.

e também aquela de te ser enseada ou barco

de nos tornarmos ilha no meio de tudo.

(vou-te contar uma coisa: estou no escuro, escrevo-te poemas de olhos fechados)

como queres que te prove o que me corre pela espinha?

de olhar aberto ao rio do tempo,

e em que lugar te provar como passo os dias,

também aquela imagem dos nossos corpos oscilando um no outro

devagar

e aquela em que poderia aflorar o teu rosto

seguir a curva do teu queixo

só com o polegar encontrar

exactamente onde pousar o beijo

e a do equilíbrio de um sorriso nascido ao mesmo tempo e a foto final feita num dia sem data

em que poderia enfim chamar-te

meu amor.

mas estamos de feridas abertas abertas cobertas do pó do álibi do tempo

terça-feira, 28 de maio de 2013

balconarias(fg)


por Luiz da Nóbrega em Terça, 23 de abril de 2013 
O homem não percebeu,
nem quem ele é,
nem quem sou eu;
Ainda anda de pé
depois pára à deriva:
disse-me: -"Trago uma luz nos olhos,
uma coisa viva."

Disse-me:
" Cheguei aqui num calmo desvario,
em minha casa recomeçou o rodopio,
o desfile amargurado das quase amigas
da mulher a quem vem contar queixas,
porque  em casa delas houve brigas
ou não podem colorir as madeixas,
eu antes vivia em solidão
e assim continuo no meio desta multidão,
se é assim, que assim seja,
vou apanhar mais um cansaço de cerveja,
depois já não sei quem rio ou quem chorou,
se ela chorou ou se eu rio,
se alguém passou na escada,
se desceu ou se subiu."

O homem até percebeu,
chegou, apanhou e deu,
andamos todos à porrada,
só não se sabe quem ganhou nem quem perdeu,
quem beijou, se foi beijado,
se deduziu que foi seduzido para passar a vida
assim a passar só um bocado,
se ouviu, se foi ouvido,
procurou, foi procurado,
entrou naquilo mas ficou nisto,
se ele viu sem ter sido visto,
se as coisas se passaram
ou ele passou pelo mundo,
onde os seus gestos pararam,
ou se foi ele mais fundo do que
as vozes que o chamaram.

Estava ali a gritar
no ponto de saturação,
se ele bebeu cerveja
ou só, se encostou ao balcão
com a dor que lhe sobeja,
e nem lhe desponta a razão,


se foi ele que disse sim
ou os outros que disseram não,



trazia nos olhos uma luz acesa
por um demasiado cheio coração.

corre dor


por Luiz da Nóbrega  em Domingo, 21 de abril de 2013 
Porque corres?
Porque teimas em correr se logo morres !?
Se aquilo que procuras é ouro e prata,
se vais depressa é a pressa que te mata.

Se perdeste o caminho da materna floresta
de toda a riqueza que tens, nada presta,
se já não sabes respirar na montanha pedregosa
a tua palavra não é mais que uma brisa mentirosa,
se perdeste o calor antigo das mãos
do teu sangue só escorrem frios nãos,
o teu olhar fica seco de dureza, não te vês,
não vês ninguém, não vês a beleza.

cuidado com as palpitações e outros sobressaltos,
cuidado, com as vossas regras de inconscientes incautos,
e as aspirações supersticiosas que há tantas,
entre bingos, pokeres, roletas e mais de quantos totolotos,
és jogador
ou bebedor e cada qual com sua dor,
cada um procura o que lhe dá ardor,
matador, fumador, prior, fodedor, armazenador,
perdedor, ganhador, espilrador, aspirador,
alinhador, amador, trabalhador,
cantador, palrador,
distribuidor...de dor,
sim senhor senhor prior
tanto pecado e horror,
se tanto corres é para não lhe veres a cor.

a tirania das palavras


por Luiz da Nóbrega em Sábado, 20 de abril de 2013 
Palavras suaves
nas horas que acabas
da mágoa te lavas,
palavras que não chegam nunca ao fim,
do tamanho da montanha-jardim,
palavras no desarticulamento do corpo,
as palavras são tão pouco, acabadas de sair,
vindas do fundo do tempo,
cada palavra é um momento, um gosto, uma cor
um sabor, um riso ou um tormento,
cada silaba um fulgor, dizem coisas de repente,
dizemos palavras repentinas que
no impeto da dor
se desligam da vontade,
entram em labirintos, fazem esquinas,
cada palavra é um passo,
cada qué?? pala  pala  palavra

é como um som que se lavra
na terra grande do ser,
cada palavra a cair
num sonho ainda por ter,
e a palavra é que sabe
se o começa ou acaba.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

só o teu nome


por Luiz da Nóbrega  em Sábado, 20 de abril de 2013
só o teu nome
é mar imenso,
sol intenso,
ferida com fome que me revolve,
e ao mesmo tempo unguento e razão
para viver mais um tempo.

o teu nome na memória e
na nossa história
sou apenas mais um transeunte que
passando descuidado
entrou no beco sem saída
do teu coração.

ex acta mente

por Luiz da Nóbrega  em Sexta, 19 de abril de 2013 
Queria apenas um dia ter um pequeno momento
para me deixares aflorar o teu rosto,
sentires o calor dos meus dedos
e eles sentirem-te toda sem segredos,
seres inteira para mim na áurea da tua pele,
poder deslizar devagar pela curva do teu queixo,
e ir só com polegar  medir exactamente
onde pousar os lábios.

fragmentos


por Luiz da Nóbrega  em Sexta, 29 de março de 2013 
são momentos em que te dás,
em que chegas com teus ventos estruturais, tanto faz se
te dás menos ou se te dás mais,
se em nos descobrimos caminhos essenciais,
ah! é pra rimar? zàs, pàs, tràs, càs e outras coisas mais...

se o resto são lugares
o mais importante é porque estás
e todos os teus estares me trazem a ti,
ao que és , ao que eras dantes
ao que se pode ser depois
nunca se sabe
se chegares...


pois, com uma esperança que não acabe,
nunca se sabe se poderás  ainda saber quem é essa criança,
regressar onde cresceu e ao que viu,
o que aprendeu nas pétalas de uma flor
que um dia lhe sorriu,
de solto Verão, só Verão mais nada,
sol, luz, vento, calor e um sorriso florido,
reimprimido em ti como a promessa de um amor que ainda sonhas
ainda....

ou finda apenas mais uma etapa do tempo
que se escapa da gente
e julgamos descobrir o nosso lado paciente, mas

devo-te invadir, se me deres o direito,
é o tal vai-vem que, com teu jeito de ir e o teu jeito de vir
invade o meu peito,
olho pra dentro
e nao vejo ninguém